Sobre amores e garrafas vazias de vinho.

domingo, 17 de abril de 2011

Os sofrimentos do jovem Werther ...

Só Deus sabe quantas vezes mergulho no sono com a esperança de nunca mais despertar; e, pela manhã, quando arregalo os olhos e torno a ver o sol, sinto-me profundamente infeliz. Oh! Se eu pudesse mudar de humor, entregar-me ao tempo, a isto ou aquilo, ao insucesso de uma iniciativa qualquer, ao menos o fardo dos meus aborrecimentos não pesaria tanto. Que desgraçado que sou! Sinto-me perfeitamente o único culpado... Não, não sou culpado, mas é em mim que está a fonte de todos os meus males, como outrora a fonte de toda a minha felicidade. Não serei mais o homem que então nadava num mar de rosas, e a cada passo via surgir um paraíso, e cujo amor era capaz de abranger o mundo inteiro? Mas o coração que assim pulsava está morto, não produz mais os arrebatamentos de outros tempos; meus olhos, agora secos, não refrescam mais de lágrimas benfazejas, e a angústia abafa os meus sentidos, contrai e enruga a minha fronte. Aumenta o meu sofrimento verificar que perdi aquilo que fazia o encanto da minha vida: sagrada e tumultuosa força graças à qual podia criar mundos e mundos em torno de mim. Essa força não mais existe! Quando contemplo, da minha janela, o sol matutino rasgar a bruma sobre a colina distante, iluminando a campina silenciosa no fundo do vale, e vejo o riacho tranqüilo correndo para mim e serpenteando entre os salgueiros desfolhados, essa natureza me parece fria e inanimada como uma estampa colorida. Todos esses encantos não me podem fazer subir do coração ao cerébro a menor sensação de felicidade, e todo o meu ser permanece perante Deus como uma fonte estancada, como uma ânfora vazia! Quantas vezes caio de joelhos sobre a terra, implorando de Deus algumas lágrimas, como um semeador implora a chuva, se sobre a sua cabeça o céu de bronze e, em torno, a terra estala de sede.
Mas, ai de mim, não é a impetuosidadedas nossas preces que fará com que Deus conceda a chuva e o sol. E os tempos, de que sinto uma torturante saudade, só eram felizes porque pacientemente eu me confiava ao seu espírito e recebia de todo o coração, com um vivo reconhecimento, as delícias que ele derramava sobre mim.
Mais uma madrugada, perdido em meus pensamentos, entre uma taça e outra, procurando na musica, na poesia até mesmo no silêncio. Procurando palavras que pudessem passar um pouco do que cada centímetro desse corpo quer gritar.
A lua e o vinho são as minhas únicas companhias. Enquanto o resto do mundo dorme, eu me encontro aqui perdido em meus pensamentos, sua imagem é criada a todo o momento. Às vezes chego a sair desse plano, vou para um mundo onde meus sonhos são concretizados. Mais em seguida, acordo, com o barulho do vento batendo na janela, quebrando então todo o silêncio e me trazendo a realidade.
Deparo-me com os primeiros raios do sol avisando que o dia está apenas começando. Todos levantam para saudar mais um dia, enquanto eu volto para o meu leito, ainda com a sua imagem projetada na minha frente, até tento agarra - lá, traze - lá para perto do meu peito e com um abraço forte segura-lá em meu peito. Protegendo-a de todo mal que esse mundo oferece. Novamente acordo, dessa vez com os pássaros cantando na janela.
Ligo o radio para embalsamar o meu leito. Deito-me e penso:
-Será que ela também pensa em mim?

2 comentários:

Taiane Silva disse...

Eeeh... porque amar é tao complicado? rsrs

Adorei!
Beeeeeijo

MaJuH disse...

Goethe *.*
simplesmente incrível!
e respondendo à pergnta: pensa sim!
:)